Chikungunya chegou ao país um ano antes de ser detectada por sistema de vigilância de saúde

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O 'Aedes aegypti' é o mosquito transmissor da dengue, zika e chicungunha Foto: PAULO WHITAKER / Reuters

RIO — Detectado no país pela primeira vez em 2014, o vírus da chicungunha entrou no Brasil mais cedo do que estimava o sistema de vigilância em saúde pública. Pesquisadores da Fiocruz e da Universidade de Columbia, nos EUA, concluíram que a enfermidade já existia em território nacional entre 2012 e 2013.

O levantamento foi realizado a partir de exames de amostras de sangue coletadas pela Fiocruz entre 2016 e 2017. Os testes genéticos serviram para rastrear por onde e em que local entrou o vírus da chicungunha.

Segundo a Fiocruz, a intenção da pesquisa é “auxiliar na tomada de decisões em saúde pública baseada em evidências, uma vez que o resultado leva a crer que pacientes foram diagnosticados erroneamente no país, sobretudo no Rio, por todo esse período de não identificação novo vírus”.

Um método usado pela Universidade de Columbia avaliou novamente 40 amostras que deram resultados positivos para a enfermidade e negativos para dengue e zika. Catorze representavam datas específicas do período de 15 meses antes e foram analisadas posteriormente pela tecnologia desenvolvida na instituição americana. O teste permitiu a recuperação quase completa dos sequenciamentos de DNA e a identificação de rastros — os genótipos — do vírus da chicungunha.

— Cada vez que um vírus circula, surgem mutações no genoma. E, através da ancestralidade dessas variações, conseguimos mapear a rota que o vírus fez por aqui e quando — explica Thiago Moreno Lopes e Souza, pesquisador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz) e um dos coordenadores do estudo, publicado esta semana na revista “Scientific Reports“.

Moreno, assim, viu uma correlação entre a divergência do DNA e a data de coleta das amostras. Isso significa que o vírus da chicungunha teria chegado antes no país — entre 2012 e 2013, a partir do Norte e Nordeste, e no Rio em 2014, embora o primeiro registro da enfermidade no estado tenha sido feito apenas no ano seguinte.

— Se temos a evidência de que um vírus circulou por mais ou menos um ano sm ser detectado, e isso aconteceu na dengue e na chicungunha mais recentemente, significa que a vigilância precisa se preocupar muito mais com os casos negativos para vírus pré-existentes e começar a triar para outros possíveis agentes com potencial de emersão — explica Moreno. — Dessa forma, é preciso reconhecer esse vírus antes que ele se torne um problema de saúde pública, evitando, assim, uma epidemia.

O Ministério da Saúde registrou, entre janeiro e o final de outubro de 2018, 80.010 casos prováveis de chicungunha no país; destes, 59.584 (74,5%) foram confirmados e 21.575 descartados. A Região Sudeste apresentou o maior número de ocorrências — 47.811, ou 59,8% do total.

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