O P&E postou uma matéria muito interessante sobre “ As baratas estão evoluindo e se tornando resistentes aos inseticidas”, apontada por uma universidade americana, alertando para a necessidade de desenvolvimento de novos venenos para o controle de pragas ( Purdue University, em Indiana, Estados Unidos ).
Falando sobre resistência:
As baratas, como outros insetos, podem ser selecionadas pelos inseticidas, manifestando um processo de resistência. Como ocorre? Em uma população de baratas ocorrem indivíduos que já nascem suscetíveis e outros que já nascem resistentes a determinados produtos. Isto caracteriza uma herança genética. Como no Homem, ocorre o mesmo processo, com as bactérias enteropatogênicas, por exemplo. Se tomarmos sempre o mesmo antibiótico, vamos eliminar as bactérias suscetíveis àquele i.a. e logo vamos ter uma população de bactérias resistentes que “sobraram”, por não sofrer o efeito da substância ativa do medicamento. E teremos que trocar de remédio.
Com as baratas e outros insetos acontece o mesmo. Se usarmos sempre o mesmo inseticida, passamos a selecionar uma população resistente. Este é um mecanismo seletivo. Pode, inclusive, haver uma resistência cruzada. Mas esta é outra história.
Como agir?
Alguns procedimentos podem tornar este processo de resistência retardado ou até mesmo protegido, com o uso de rotação ou rodízio de produtos.
É importante lembrar que as baratas reproduzem-se muito rapidamente e o rodízio de inseticidas deve ser avaliado com atenção, com base na resposta de controle. Caso seja percebido um resultado menos eficaz, com a presença de baratas vivas, torna-se recomendável a rotação, ou seja, a troca de i.a. Vale lembrar que esta rotação deve ser por grupos químicos distintos daquele em uso.
Posicionamento das indústrias:
As indústrias estão sempre investindo em novas moléculas e novos grupos químicos, sempre mais seguros e mais eficazes, para disponibilizar para os controladores de pragas a oportunidade de rodízio e prevenção do processo seletivo de resistência. A oferta comercial ampla oferece a possibilidade de rotação, contribuindo para a troca de i. a.
Outra modalidade industrial, diga-se uma alternativa bastante técnica para evitar a seleção mais acelerada do processo de resistência, baseia-se nas misturas comerciais de diferentes i.a. Qual o objetivo deste produto final? Oferecer um produto comercial com diferentes i.a. ao mesmo tempo, de modo a possibilitar um mecanismo que acione um ou mais i.a. quando algum deles não responder por algum mecanismo de resistência. Visa ofertar diferentes possibilidades para que não ocorra falha no controle.
Misturas industriais X misturas de bancada:
Deve estar explícito que aqui estamos mencionando misturas industriais, cujos estudos toxicológicos do produto final garantem segurança para os usuários e para o ambiente.
Por outro lado, misturas de bancada de laboratório não devem ser incentivadas nem realizadas de forma aleatória, pois podem produzir produtos finais de toxicidade desconhecida e, portanto, perigosas para o Homem e para o ambiente.
No limite, pode-se aceitar a mistura de bancada de produtos com modo de ação distinta, sendo um de ação residual e outro com ação de impacto, a fim de otimizar resultados de controle em ambientes de elevada infestação. De todo modo, não é recomendável, senão proibida, a mistura de bancada de mais de 2 produtos. Alertamos que a mistura de produtos com modo de ação similar e mesmo grupo químico é puro nonsense.
Outras alternativas de controle devem ser elencadas, como a iscagem e o polvilhamento, até o presente momento sem registro de resistência.
Gerenciamento Ambiental como suporte:
Muito se aprendeu ao longo do tempo, desde a época do DDT até os dias atuais, sobre a importância do ambiente, tanto para a prevenção de pragas como para a otimização de performance dos produtos químicos.
Gerenciamento ambiental , incluindo manejo de resíduos, eliminação de abrigos, bloqueio de acesso, higienização, sanitização etc , por si só, tornam o ambiente inóspito às pagas. Paralelamente, prolongam a vida útil dos produtos químicos no local.
Como opinião pessoal, imputo a este item o maior percentual para o sucesso de um programa de controle.
O maior, não significa o único!

Lucy Ramos Figueiredo
Bióloga formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro / UFRJ, com especialização em Saúde Pública/ modalidade Epidemiologia pela Escola Nacional de Saúde Pública /ENSP da Fundação Oswaldo Cruz / FIOCRUZ.
Ex-pesquisadora e analista ambiental da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente /FEEMA, hoje InEA/Instituto Estadual do Ambiente tendo exercido os cargos das chefias do Serviço de Insetos, da Divisão de Vetores , do Serviço de Determinação de Bioensaios e Metodologias e da Seção de Registro e Fiscalização.
Atualmente diretora técnica da Ambiental Consultoria Técnica LTDA, consultora em GERENCIAMENTO INTEGRADO DE PRAGAS, professora convidada do curso de especialização em Entomologia Urbana da UNESP e ex diretora técnica da ABCVP/ Associação Brasileira de Controle de Vetores e Pragas de 1991 a 2015.