Estudo sugere que infecção por dengue pode ser indiferente para proteção contra o zika vírus

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Um novo artigo, publicado nesta terça-feira (12) por pesquisadores do Grupo de Pesquisa da Epidemia da Microcefalia (MERG), vinculado ao Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz), sugere que infecções de dengue ocorridas há muitos anos podem não garantir proteção ao zika vírus. O estudo veiculado na revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases foi realizado a partir de marcadores sorológicos de zika e dengue e a transferência materno-fetal de anticorpos entre mães e bebês após o surto de microcefalia no Nordeste do Brasil, ocorrido entre 2015 e 2016.

Nesta terça, pesquisadores pernambucanos e do Reino Unido se reuniram na Fiocruz Pernambuco para discutir esses e outros achados das pesquisas que vêm sendo realizadas de forma colaborativa desde o surto.

No artigo publicado na Plos, foi utilizado um painel de amostras sorológicas de um estudo de caso-controle para revelar o perfil imunológico das mães que tiveram zika e dengue, após a transmissão do zika em uma população anteriormente não exposta ao vírus. Os resultados refletem o perfil dos anticorpos no momento do parto de mães que tiveram filhos com microcefalia e também daquelas que não (consideradas controle), moradoras de áreas onde houve alta taxa de transmissão.

“Em termos imunológicos das mães que tiveram filhos com microcefalia, o que aparentemente esse artigo mostra é que uma informação passada de dengue há longo prazo parece não interferir seja na proteção seja no aumento de risco para a mãe ter zika”, afirmou a pesquisadora e coordenadora do MERG, Celina Turchi.

De acordo com ela, o artigo reforça a percepção de que se a exposição à dengue aconteceu há mais de 18 meses, ela tem pouca influência sobre uma proteção à infecção por zika vírus. Presente no auditório da Fiocruz durante o seminário internacional “Zika Vírus Três Anos após a Epidemia – Pesquisas em desenvolvimento e perspectivas de novas parcerias Pernambuco – Reino Unido”, Celina reforçou a necessidade de que as instituições continuem aportando verba e interesse nas pesquisas para que outras perguntas sobre o zika vírus possam ser respondidas.

“Hoje trabalhamos fortemente para responder qual a incidência de infecção congênita em diferentes populações, pois isso vai ser um balizador para saber se uma vacina vai ter ou não possibilidade de ser usada em diferentes contextos”, detalhou.

Os desafios de desenvolver e testar uma vacina para o zika, dentre os quais a própria ausência de um momento de surto vigente para que sejam feitos testes em humanos, foi um dos pontos abordados no evento pela professora da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, Annelies Wilder-Smith. Segundo ela, está sendo preparada uma rede na América Latina para seguimento das pesquisas. “Sabemos muito pouco ainda sobre mulheres que tiveram a doença de forma assintomática. Não se sabe o espectro total de casos”, afirmou, durante a apresentação. Annelies Wilder-Smith afirmou que a previsão é de que, pelos próximos dois anos, não aconteça nenhum surto de zika vírus na América Latina.

Outros temas abordados no encontro foram as doenças neurológicas associadas ao zika, com a série de casos da Síndrome de Guillain Barré, desafios e oportunidades nos estudos da chikungunya e o impacto social da síndrome congênita do zika vírus. O evento foi realizado em parceria com o consulado do Reino Unido no Recife. “Um dos nossos focos de investimento recente tem sido nas pesquisas sobre o zika. A ideia desse encontro é mostrar à sociedade como essas pesquisas conjuntas estão ajudando a academia e a sociedade”, detalhou o cônsul britânico Graham Tidey.

“O Reino Unido tem um histórico de liderança na globalização da ciência. Por isso o Fundo Newton trouxe resposta de investimento nessa área e nós temos o compromisso de ter funcionários trabalhando aqui especificamente nisso”, acrescentou o diretor-adjunto de ciência e inovação do Consulado do Reino Unido, Rui Lopes.

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