O agente de endemias e o reflexo na saúde pública

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Foto: Marcelo Pamplona Fiúza

O Agente de Combate a Endemias – ACE, antes de tudo é um ser humano, um cidadão como outro qualquer, que está na sua função, cuja rotina é técnica e humana, pois ele colabora na promoção e na proteção da saúde, o que torna sua profissão valiosa. Essa compreensão por todos é de fundamental importância para uma mudança radical de atitude.

O ACE está inserido no escopo da Vigilância em Saúde, especificamente na Vigilância Ambiental, juntamente com a Vigilância Epidemiológica em parceria com a Vigilância Sanitária, cada qual com sua função, havendo, portanto, uma interseção.

Há inúmeros estudos que mostram as exatas proporções de retorno e economia no saneamento básico. Por exemplo, segundo a OMS, a cada 1(um) real investido em saneamento básico, economiza R$ 9 (nove) reais em gastos com o sistema de saúde pública. Por isso, o investimento de uma maneira geral em prevenção, promoção e proteção da saúde tem um retorno grandioso.

Como essa conta funciona? É simples, uma cidade que investe em saneamento básico, combate a dengue e outros vetores, Vigilância Sanitária e Ambiental, no que diz respeito basicamente a: higiene; controle da água; e controle do solo, dificilmente terá todos os leitos de hospitais ocupados e os recursos poderão ser melhor distribuídos. Isso gera Impactos transformadores na realidade da cidade.

Vale salientar que o retorno é bem maior, as empresas, por exemplo, terão seus funcionários produzindo mais, o que gera uma capacidade maior para investir na segurança do trabalhador, gerando lucros maiores.

Segundo dados do Instituto Trata Brasil, anualmente cerca de 340 mil internações são causadas por infecções decorrentes da falta de saneamento básico, como dengue, leptospirose, diarreias e hepatite A.

Assim como os resultados das ações de combate a dengue, essas medidas de prevenção e de promoção da saúde não são tão atrativas, pois não causam impacto, não são visualizadas pelo povo e nem há interesse em serem divulgadas na mídia.

Infelizmente, por interesse meramente egoísta e material, muitos homens públicos não têm ainda a conscientização da importância da sua função, quiçá lembram da sua função que foi desconstruída ao longo dessas últimas três décadas e meia. Ou seja, o que não é visto pelo povo e o que não gera valores absurdos de dinheiro é simplesmente esquecido.

Para se ter uma ideia da seriedade do assunto, até a semana 19, foram notificados 714.164 casos prováveis de dengue no país. O Paraná apresenta uma incidência acumulada de 2.032,5 casos/100 mil habitantes e 244 (61,5%) municípios apresentam incidência acima de 500 casos/100 mil habitantes.

Foram confirmados 124 óbitos e 41 permanecem em investigação.

Fortaleza, por exemplo, é um das regiões de maior destaque na proliferação dos mosquitos, devido ao clima, o que favorece o prolongamento do ciclo do Aedes, em torno de 60 dias, porém a situação não é grave como em cidades do centro-oeste e do sul.

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Foto: Marcelo Pamplona Fiúza

O Trabalho Focal do ACE, consiste na Vistoria de residências, sucatas,oficinas, terrenos baldios e estabelecimentos comerciais para buscar focos endêmicos; aplicação de larvicidas; orientações quanto à biologia do mosquito,a prevenção do mesmo e o tratamento de doenças infecciosas. Vale salientar que as ações nos Pontos Estratégicos – PE, local de maior incidência, devem ter uma maior atenção, visto que corroboram para o aumento do número descartáveis do grupo D1 (Pneus) assim como os objetos móveis, grupo B.

Essas atividades são fundamentais para prevenir e controlar doenças como Dengue, Chikungunya, Chagas, Leishmaniose e outras. Esse servidor tem uma função técnica de muita relevância, pois ele promove uma integração entre as Vigilâncias Epidemiológica, Sanitária e Ambiental.

O Agente, que está na ponta, precisa de todo suporte para uma ação eficaz: acima de tudo ele necessita ser valorizado e escutado, pois é ele quem conhece os principais problemas da região, quais os obstáculos e o que realmente é necessário para desempenhar um excelente trabalho. Acessórios como crachá de identificação, cavalete e EPI de proteção são imprescindíveis.

Quando maltratado pelo morador ou pelo responsável do estabelecimento, o servidor às vezes não tem preparo suficiente, nem apoio dos seus supervisores para ter jogo de cintura ou proteção em situações críticas. Constantemente há casos de ameaça, até com uso de arma de fogo, bem como assalto. Há quem faça esse trabalho por amor, mas há também quem faça exclusivamente para sobreviver.

O Supervisor tem uma função primordial, pois ele é o elo entre quem está no campo e quem processa os dados. Com a supervisão, ele pode não somente alertar algum ponto de melhoria, como também incentivar com agradecimento e elogio pelo trabalho bem feito.

A população muitas vezes não contribui e se isenta de sua responsabilidade, achando que o ACE é um “gari” ou tipo de agente de limpeza público/privado.

Há muitos imóveis abandonados e fechados e boa parte fica sob responsabilidade das imobiliárias. Como melhorar o quadro epidêmico se não houver colaboração de todos?

O fluxo de ações e resultados depende necessariamente da atuação do Agente. Todavia, é preciso uma conscientização maior da população, que muitas vezes não tem abertura para compreender e nem iniciativa para contribuir com o bom andamento do trabalho do Agente.

Por fim, atingir esses objetivos essenciais e consequentemente obter êxito, não é suficiente visitas, mobilizações, orientações, qualificações e recursos. É preciso compreender que um depende do outro, para que todos fiquem bem.

Portanto, essa decisão, esse compromisso é uma tarefa de todo cidadão que pensa no bem estar do próximo, na coletividade, e no desenvolvimento da nação.

Marcelo Pamplona Fiúza

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