Fumacê é considerado medida de baixa eficácia contra dengue, diz especialista

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Carro do fumacê da Vigilância Sanitária do DF — Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

Mesmo sendo uma medida bastante cobrada pela população, o fumacê usado para o combate ao mosquito da dengue é constante alvo de divergência entre pesquisadores. Além da baixa eficácia na ação, estudos indicam que o contato recorrente com o inseticida pode causar intoxicação e, a longo prazo, o desenvolvimento de câncer e outras doenças (veja detalhes abaixo).

O Ministério da Saúde informou ao G1 que, em 2016, investiu US$10,4 milhões (cerca de R$ 40,4 milhões) para comprar 1,65 milhão de litrosde Malathion, inseticida usado pelos carros fumacê em todo o país. O produto foi fornecido por um único laboratório, por meio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

A justificativa do contrato, à época, fazia parte da estratégia de resposta imediata ao avanço da dengue, considerada caso de emergência em saúde pública. O Ministério da Saúde é responsável pela distribuição do inseticida para os estados e o Distrito Federal.

Nos anos seguintes, porém, não ocorreram epidemias de dengue, zika e chikungunya – que eram previstas para os anos de 2017 e 2018. Com isso, a procura pelo produto foi menor.

Em 2019, os casos de dengue voltaram a crescer e a eficácia do fumacê voltou ao debate. Segundo o médico especialista em doenças infectocontagiosas, Celso Tavares, a medida consiste na utilização de agrotóxico em pequenas dosagens com o objetivo de matar o mosquito Aedes aegypti, que transmite a dengue.

“O efeito dura até 30 minutos quando liberado no ar, mas o produto atinge apenas mosquitos adultos voando no momento em que o veneno é usado.”

O médico explica que os criadouros não são afetados. Assim, por depender de fatores externos, a medida é considerada de baixa eficácia, pontua Tavares.

O especialista acrescenta que, para ter um efeito melhor, o Malathion deveria ser pulverizado pelos carros de fumacê com as casas de portas e janelas abertas – para que o veneno “entrasse” nas residências. Mas isso nunca acontece.

“Habitualmente as portas e janelas estão fechadas e quando abertas, os moradores fecham durante a passagem do fumacê.”

Carro fumacê para combater o mosquito Aedes aegypti — Foto: TV Globo/ Reprodução
Carro fumacê para combater o mosquito Aedes aegypti — Foto: TV Globo/ Reprodução

Chuva, calor intenso e ventos acima dos 6 km/h também diminuem a eficácia do produto, alertam pesquisadores. O ideal é o fumacê ser usado no começo da manhã e no fim da tarde, quando a temperatura está mais amena e quando a fêmea do Aedes aegypti está “faminta” por picar as pessoas, afirma Tavares.

O fumacê

No Brasil, o Malathion, usado no fumacê, pertence ao grupo dos organofosforados, um composto orgânico degradável utilizado no controle de pragas. Por possuir uma forma diferente dos inseticidas encontrados no comércio, a distribuição é feita apenas pelo Ministério da Saúde.

O produto, entretanto, é considerado pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) como potencialmente cancerígeno para os seres humanos. Uma pesquisa feita em 2015 pela agência e que também utilizou de outros quatro organofosforados, indica que há evidências de que a exposição ao pesticida desenvolva linfoma não-Hodgkin e câncer de próstata em humanos.

O Ministério da Saúde informou ao G1 que já iniciou o processo de substituição de alguns produtos com base nas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a pasta, o uso do fumacê é a última estratégia de enfrentamento ao problema da zika, dengue e chikungunya, visto que só o mosquito na fase adulta pode ser atingido.

“A medida mais eficaz é a eliminação de focos de multiplicação do mosquito, evitando que eles nasçam, por isso, o envolvimento da sociedade é fundamental”, afirma o Ministério da Saúde.

Mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, tem pintinhas brancas por todo o corpo. — Foto: Reprodução/EPTV
Mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, tem pintinhas brancas por todo o corpo. — Foto: Reprodução/EPTV

Como se prevenir contra a Dengue

Para evitar a reprodução do Aedes aegypti em casa e, consequentemente, reduzir os ataques do mosquito – além de se prevenir contra as doenças que ele transmite – o Ministério da Saúde reuniu uma série de orientações. Confira:

  • Fazer uso de repelente sempre que estiver em áreas consideradas de infestação. Os mais indicados pela OMS são à base de Icaridina e que oferecem até 12 horas de proteção;
  • Priorize o uso de roupas claras, leves e que cubram todo o corpo – o Aedes aegypti tem atração pelo suor e por cores escuras;
  • Faça exames de rotina e, em caso de sintomas similares aos da dengue, febre amarela, chikungunya e zika vírus, procure a unidade de saúde mais próxima e consulte um médico.

Prevenção em casa

  • Utilize telas de proteção com buracos de, no máximo, 1,5 milímetros nas janelas da casa;
  • Deixe as portas e janelas fechadas, principalmente nos períodos do nascer e do pôr do sol;
  • Mantenha o terreno de casa sempre limpo e livre de materiais ou entulhos que possam ser criadouros;
  • Tampe os tonéis e caixas d’água;
  • Mantenha as calhas sempre limpas;
  • Deixe garrafas sempre viradas com a boca para baixo;
  • Mantenha lixeiras bem tampadas;
  • Deixe ralos limpos e com aplicação de tela;
  • Limpe semanalmente ou preencha pratos de vasos de plantas com areia;
  • Limpe com escova ou bucha os potes de água para animais;
  • Limpe todos os acessórios de decoração que ficam fora de casa e evite o acúmulo de água em pneus e calhas sujas, por exemplo;
  • Deixe portas e janelas fechadas, principalmente nos períodos do nascer e do pôr do sol;
  • Coloque repelentes elétricos próximos às janelas – o uso é contraindicado para pessoas alérgicas;
  • Velas ou difusores de essência de citronela também podem ser usados;
  • Evite produtos de higiene com perfume, pois podem atrair insetos;
  • Retire água acumulada na área de serviço, atrás da máquina de lavar roupa;
  • Coloque areia nos vasos de plantas.

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