Verão facilita proliferação de insetos e animais peçonhentos

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No último domingo (27), o pedreiro José Donizete Moscardini, 64, limpava um terreno na zona sul de Londrina quando foi surpreendido por um enxame de abelhas. Elas estavam sob uma tábua e, ao remover o pedaço de madeira, Moscardini foi atacado pelos insetos. “As abelhas vieram para o meu rosto e cabeça. Tentei me livrar delas, mas não consegui”, contou. Desesperado, o pedreiro pegou a bicicleta e correu até um supermercado próximo, de propriedade de um amigo, para pedir ajuda. Chegou ainda coberto pelas abelhas e foi socorrido. O comerciante e seus familiares ajudaram a remover os insetos e chamaram o Siate. Moscardini foi levado para o Hospital do Coração, chegou a ser internado na UTI, e teve alta na terça-feira (29). “Os médicos me disseram que a sorte foi eu não ser alérgico. Se eu fosse, teria morrido porque levei mais de 500 picadas.” 

Somente em janeiro, pelo menos quatro pessoas foram atacadas por abelhas no Paraná. O verão marca o período de migração dos insetos, quando 30% da população de uma colmeia deixa o local para formar um novo ninho, o que favorece os ataques porque tornam-se agressivas quando se sentem incomodadas. 

As abelhas são da espécie europeia africanizada e, segundo o professor do departamento de Biologia Animal e Vegetal da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e do programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, João Antônio Cyrino Zequi, especialmente no Paraná os insetos têm convivido com as monoculturas de soja e milho, que utilizam defensivos agrícolas, e como são polinizadoras, acabam entrando em contato com esses produtos. 

“Pesquisas no mundo mostram que esses produtos afetam a orientação das abelhas e até sua biota microbiana. Além desse fator, a escassez de áreas para polinização e abrigo, encontro de água limpa e até temperaturas elevadas, em conjunto com a genética dessas abelhas de enxamear em condições inadequadas, têm contribuído nesse processo”, explicou. Fundos de vale e outros locais com vegetação próximos à população são locais procurados pelas abelhas e essa proximidade com o ambiente urbano propicia os acidentes. 

Não são só as abelhas que se tornam uma ameaça no verão. Os dias quentes e chuvosos facilitam a proliferação de pragas urbanas, como baratas, pernilongos e escorpiões, gerando transtornos à população. Nessa época do ano, os insetos podem ser vistos com mais frequência dentro das casas e, por isso, manter limpos os ambientes é fundamental para evitar a presença desses animais e os riscos que eles representam à saúde. 

CALOR 
Os insetos sinantrópicos, ou seja, aqueles que o homem favorece a sua proliferação por fornecer condições ideais para sua reprodução e permanência no ambiente pela falta de predadores, são influenciados pela temperatura, destacou o professor do departamento de Biologia Animal e Vegetal da UEL (Universidade Estadual de Londrina), João Antônio Cyrino Zequi. “Há registros da temperaturas acima da média histórica nesse verão para o Brasil e para o Norte do Paraná. Essa condição, de certa forma, favorece o ciclo reprodutivo dos insetos, pois afeta seu metabolismo.” 

No caso do escorpião-amarelo, lembra o biólogo, as altas temperaturas e a umidade facilitam sua reprodução pela partenogênese, quando os filhotes se originam apenas dos óvulos, sem necessidade de fertilização pelo macho. Terrenos baldios ou quintais de casas com acúmulo de resíduos e entulhos servem de abrigo aos insetos, que têm maior atividade à noite. 

O verão também é um grande aliado para o ciclo reprodutivo do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya, e das baratas. “O Aedes aegypti é um velho conhecido da população, mas a cada ano que passa, o problema tem se intensificado por conta da potencialidade do mosquito em veicular novos vírus e o retorno de sorotipos para o vírus da dengue onde a população de um determinado local não esteja imunizada a ele”, disse o biólogo. 

Os humanos criam as condições favoráveis ao mosquito ao manter criadouros dentro de casa, como bebedouros para animais, pratos em vasos de plantas e recipientes recicláveis que acumulam água. Já as baratas encontram o ambiente ideal em locais onde há caixas de esgoto abertas ou com frestas, disponibilidade de alimentos ou resíduos orgânicos mal-acondicionados. À noite, as baratas saem dos abrigos úmidos e procuram por alimentos e é nesse momento que podem, inclusive, disseminar doenças aos humanos. 

VAQUINHAS 
Neste verão,os londrinenses se depararam com um outro inseto que parece ter se reproduzido além da conta. As vaquinhas-verde-amarela invadiram os lares e dezenas delas podem ser vistas durante a noite. Inofensivas, elas se alimentam de uma diversidade de vegetais e a infestação pode estar associada à colheita da soja, que desaloja os insetos no campo. “Como Londrina e região é uma área que pratica em grande quantidade o plantio de soja, os insetos são desalojados dos plantios de soja e acabam por invadir a cidade. A população dos insetos pode variar por muitos fatores, como disponibilidade de alimento, falta de predadores, resistência a inseticidas e temperaturas mais elevadas”, explicou Zequi. 

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Folha Arte

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